22 de maio de 2008
Olhando-me Nas Palavras
16 de maio de 2008
Ausência
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
AMAR
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
13 de maio de 2008
12 de maio de 2008
3 de maio de 2008
...Há Tanto Tempo
Agora são as minhas mãos que falam, que revelam, preto no branco. Ouves o que elas dizem? Falam de uma pequeníssima amizade que perdura. De um sentimento que salta todos os obstáculos para ganhar.
A minha ambição é poder fazer rir à gargalhada. Ouvir feliz. Essa é a imagem que guardo comigo. Os cabelos soltos, selvagens, cabeça para trás e um riso estridente, vitima de uma bebedeira de felicidade. Que riso despojado de preconceitos, que riso contagiante, cheio de brilho!
Reencontro a minha infância. Como se fosse um búzio do campo: traz consigo os sons dos prados por onde rebolava sem preocupações, sem pensar sequer que vivia feliz. Nunca se pensa na felicidade quando se é criança e nunca se deixa de pensar nela quando se é adulto. E não são as crianças mais naturalmente felizes?
Andei a monte. Perdi-me para me encontrar. E, como diz o nosso caro Bernardo Soares, «tudo é complexo para quem pensa» e, agora, eu só quero voltar a sentir.
E porque me esqueci dos ( -te)...
Deixa-me Rir
Deixa-me rir
essa história não é tua
falas da festa, do sol e do prazer
mas nunca aceitaste o convite
tens medo de te dar
e não é teu o que queres vender
Deixa-me rir
tu nunca lambeste uma lágrima
desconheces os cambiantes do seu sabor
nunca seguiste a sua pista do regaço à nascente
não me venhas falar de amor
Pois é, pois é
há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor,
o que vai dizer Segunda Feira
Deixa-me rir
Tu nunca auscultaste esse engenho
de que falas com tanto apreço
esse curioso alambique
onde são destilados
noite e dia o choro e o riso
Deixa-me rir
Ou entao deixa-me entrar em ti
ser o teu mestre so por um instante
iluminar o teu refúgio
aquecer-te essas mãos
rasgar-te a máscara sufocante
Pois é, pois é
há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor,
o que vai dizer Segunda Feira
Jorge Palma