27 de outubro de 2008

(...) ____________

Mas a palavra continua a elaborar esse encontro
de todos os fogos de artifício.
diz(em_______________________________________ _______________________________________

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mas se a perfeição existe, isso é toda uma envolvência de ópio(s).
há a luta fria da palavra que se esmiúça cada qual no seu (canto), e a imagem que se inspira nas cinematografias oníricas e robustas, de onde se soltam como lascas visões do plano imaginativo, e das quais se formam lentos puzzles de uma realidade fora do tacto, mas já realidade.
Nascemos(nos) para escavar na cor dos poetas as envolvências conturbadas e de todos os delirios. e por que é de
(re)nascer que somos feitos,
hoje, em nós,
renasço.

23 de outubro de 2008

Apenas

A certeza dos meus olhos é algo que não se repete ou explica.
Poderia perder palavras para poder ficar em silêncio, mas não quero deixar-me escorregar.
O que o coração faz um ritual, a cabeça faz desfolhar, o que o sentir faz um sonho, a realidade faz chorar.
Não perco apenas algo, perco o apenas, o talvez, o verdadeiro sentido da dúvida.
Nada me impede de olhar além, nada me sustém ao contar do tempo que fica agarrado às recordações.
As minhas direcções distanciam-se de tudo o que achei verdadeiro. Esta falsidade construída entre o vento e as amarras de um mar semi esquecido, não sente o que a amizade fez crescer.
A vida empurra a verdade para outra verdade, e nos braços da realidade, apenas uma lufada de imaginação torna saudável a pouca alegria de se olhar em frente.

Sem Palavras

Gostava que alguma lucidez me assaltasse agora de mansinho. Só para conseguir discorrer sobre alguma coisa que realmente importe a alguém. Mas, já se sabe, conheço de antemão a minha incapacidade discursiva e a luz da madrugada que magoa os olhos míopes faz-nos crer que tudo ou nada é essencial. E quase se morre de sufoco. Talvez seja perda de tempo. As prioridades hão-de sempre estar trocadas, isto de acordo com as ideias mais básicas de cada um: dinheiro, amor, ou a tal desejada liberdade, de que muitos falam e poucos lhe sentem o cheiro. Pouco importa, também já se sabe. A futilidade de certas pessoas sempre me assustou. E digo futilidade com a plena consciência de que também eu pertenci e pertenço a esse grupo de cada vez que me deixo invadir por preocupações que em nada me dizem respeito. Nunca fui de muitas palavras, é um facto. Em vez disso, gosto que se agigantem em mim.
Gosto de ter noção de que são mesmo valiosas e que estão finalmente dispostas a ser oferecidas aos outros.
O corpo não me pede para dormir esta noite. E a inquietação dá lugar a palavras escondidas e emoções falhadas. Não tenho culpa.
Preciso de me salvar antes que o cinismo tome conta de mim. E sei que nada disto faz sentido para a maioria das pessoas. Sei que penso trinta vezes antes de falar ou agir exceptuando o nervosismo feliz de determinadas situações e que o meu silêncio incomoda.
Sou assim, ponto final. Um dia, isto dito no imprevisto dos acasos que resgatam muitas vezes a alma às pessoas, disseram-me num sorriso que eu era transparente. Choro, coro, e rio com muita facilidade. É verdade. Foi, até hoje, um dos elogios mais bonitos e sinceros que já me fizeram. E eu não esqueci. Porque sei que essa transparência se tem perdido, sem rasto, entre os meus dias vazios. E eu queria muito quebrar certos silêncios. Dizer o que me preocupa ou o que me faz sentir bem e feliz. Mas também sei que há quem partilhe comigo, quase na clandestinidade, esses silêncios entendidos feitos de pequenos gestos. Hoje tentei em vão, falar de silêncios entendidos. Aqueles transparentes que aconchegam o coração. E eu sei que nem toda a gente os percebe. Muitos mais são os que os julgam ser tristeza. Talvez. Mas só a tristeza de não saber como tocar fundo na alma das pessoas...
Sem palavras...

21 de outubro de 2008

Paulo Bragança












Aguarda-te ao chegar - Ana Moura

20 de outubro de 2008

16 de outubro de 2008

Silêncio Universal

"O silêncio tem de ser reinventado como forma de reavivar a universalidade"

O melhor que podemos e devemos cultivar diariamente é um pouco o silêncio, para que nos possamos equilibrar e reflectir sobre nós, sobre a eficiência não como um «fast-food» ao alcance daqueles que colocam os desempenhos acima de tudo o que pensam, mas de uma sabedoria que supõe uma capacidade para pensar, com tenacidade, com perseverança e com uma intencionalidade empreendedora de comportamentos.

9 de outubro de 2008

Isolamento

Emulo o sorriso que procuro, os olhos perdidos desenham formas e figuras detrás da tela e não há tela, não há saída senão desistir e ninguém quer sair daqui. Gosto da música e de um concerto mágico, o princípio funde-se no tempo e as flores escrevem pela manhã, e pelas noites o sonho incómodo, existe alguma coisa que falta e não se sabe o que é (ilusão), creio no deserto...
Onde estou? No deserto. Onde vou?
A firmeza flanqueia uma sombra rasgada, uma luz que flameja, é tão estranho, estranhar-te, o canto encostado, só um sítio espera como o tempo, o relato. Como é que o tempo espera?
Vejo nos olhos o prazer, a concertação da alma, há que se habituar ao vento como sabem, a inquietude, as ondas procuram mover-se outra vez, a pureza. Que será a pureza? A distância suficiente do sol para não evaporar-se?
Atrás das cortinas o anjo veio sussurrar no ouvido, existe amor, amizade, e sabe o desfecho não é real, falta a fé e não quero dormir sem ar na boca, a voz faz-me falta...
Não querem sair (de mais) as palavras, procuram a calma e a paz do sol descansa e não sei se depende senão da vida. A incerteza descalça avança, lá fora está a rua e falo do ar que me atravessa e se posso pedir, se me posso servir do que oiço aqui rodeada de flores junto da mesa e se no ar desfilam odores. E a mente? Como na espera de um instante, um segundo, e renascem as vozes, os olhos abrem outra vez como sempre, como antes, como nunca e depois o convite ao tacto, é a pele que me chama o eco da luz é hora de voltar aos lábios o tacto, beijo o ar e a dor se vai, o arder não queima mais, e no mar de fogo o tempo não marca, digita e debaixo do sol saio a caminhar, em busca de um sorriso, da felicidade, um sorriso de todos, um sorriso...

8 de outubro de 2008

Parte de Mim

Pedro Abrunhosa

Jeito de Escrever

Não sei que diga.
E a quem o dizer?
Não sei que pense.
Nada jamais soube.
Nem de mim, nem dos outros.
Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas...
Seja do que for ou do que fosse.
Não sei que diga, não sei que pense.
Oiço os ralos queixosos, arrastados.
Ralos serão?
Horas da noite.
Noite começada ou adiantada, noite.
Como é bonito escrever!
Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto o jeito.
Ao acaso, sem âncora, vago no tempo.
No tempo vago...
Ele vago e eu sem amparo.
Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, este sereno luto das horas.
Mortas!
E por mais não ter que relatar me cerro.
Expressão antiga, epistolar: me cerro.
Tão grato é o velho, inopinado e novo.
Me cerro!
Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados,solta a outra, de pena expectante.
Uma que agarra, a outra que espera...
Ó ilusão!
E tudo acabou, acaba.
Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda?
Silêncio.
Nem pássaros já, noite morta.
Me cerro.
Ó minha derradeira composição!
Do não, do nem, do nada, da ausência esolidão.
Da indiferença.
Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada.
Noite vasta e contínua, caminha, caminha.
Alonga te.
A ribeira acordou

Irene Lisboa

7 de outubro de 2008

Desassossego

"O coração, se pudesse pensar, pararia."

"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do
abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma
prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis,
porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao
que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao
que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até
mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e
canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que
me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro
dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se
não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

Livro do Desassossego
Bernardo Soares

(Heterónimo deFernando Pessoa)