31 de janeiro de 2009
Mar de Setembro
A todos os que navegaram nas ondas deste mar de emoções, o meu obrigada. É por vós, para vós e acima de tudo por um gosto muito particular da expressão escrita, ainda com muito para aprender, do gosto de uma musicalidade diferente, das mais diversas formas de mensagem, que por aqui vou andando. Porque " Tudo Isto Existe", num "Barcoalado" e num navegar individual, o meu carinho a todos vós.
Obrigada
Bjs
Tudo era claro;
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves -só ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam, exaltam o silêncio.
Tudo era claro, jovem alado.
O mar estava perto.
Puríssimo.
Doirado.
30 de janeiro de 2009
Epifania
...deixa-me entrar
deixa-me verte
sussurrar um segredo
na tua orelha
sussurrar como um silêncio
no teu ouvido
sussurrar até te ensurdecer e desatar-te de todos os fios sem mais te soltar e voar, inclusive de costas para a terra, para olhar o céu total, total...
... e cá estou, desde cima vamos pedindo que cuides da minha lua, que absorveu vazios, vazios de madrugadas que sonharam com luas, que sonharam em correr ao chá servido no jardim, sonhando sempre com as madrugadas sorridentes frente às madrugadas abertas, e quando tremendo os lábios falam do vento e da pressa do tempo que se acende sem fé num corpo que se perde nos olhos encandeados pela dor das sombras de se ver, quando não, sem voltar a esconder-se, mas sim quando se cobre de livros pessoais como tormentos que estalam nas paredes que olham como sonhos madrugadores que pensam e teimam em sonhar ao sol, que tremem ao incendiar encandeando as chuvas utópicas que nunca banharam corpos sedentos que gemem sonhando utopias abertas ao sol da flor...
... Deixa-me ver-te
deixa-me entrar
escrever outra vez como nunca
na tua pele
escrever outra vez como sempre
no teu sangue, no vento
escrever até ter dedos outra vez em aros metálicos que se lêem entre céus pintados de vermelho e verde, não como uma cerimónia, nem com interrupções resplandecentes da memória da água, não já não, total para quê...
26 de janeiro de 2009
Queda da Redonda 24-01-2009
Foto tirada em São Pedro do Sul a 13-05-1984
25 de janeiro de 2009
19 de janeiro de 2009
Imoral
Honestamente não sou uma pessoa que diga muitas asneiras e muito menos me assusto ao ouvi-las, alguns dizem que é porque sou quarentona, e os quarentões são mochos....a verdade não sei, mas não acredito que seja esse o motivo.
Se não digo asneiras é porque não gosto, mas pelo contrário "encanta-me" a linguagem mordaz, obscena, subtil, porque são poucas as palavras que realmente significam alguma coisa, que têm vida própria, que vivem no nosso interior, fervem e estalam apesar da ambiguidade da palavra em si e em cuja magia cai o mais brutal do nosso ser. Isto para mim são as más palavras.
São as más palavras única linguagem viva num mundo de vocábulos anémicos.
E por isso mesmo não considero mal gastar o brilho desta linguagem.
Ultimamente permite-se o uso de certas palavras na rádio e televisão, são coisas de todos os dias, é uma liberdade de expressão muito grande, a verdade é que existe um retrocesso da linguagem e da expressão, começam a gangrenar as palavras. Essa linguagem que tinha a magia de imutar a quem a escutava e dizia "oh...deve ser importante" agora já se perdeu isso!!! Já não imuta ninguém!
Que dizer para que a palavra volte?
Que dizer para não se afogar quando as palavras precisas para isso se desgastam todos os dias em pueris conversações que não requerem essa carga de emoção?
Que asneiras dizes quando te cai o telemóvel ao chão??? Mas sejamos honestos... ainda que isso nos faça sentir bem, mas bem idiotas.
As palavras agridem aspectos básicos: - a sexualidade, a inteligência e o aspecto físico.
O poder mágico da palavra intensifica-se pelo carácter proibitivo. Ninguém a diz em público, somente num excesso de cólera, uma emoção ou o entusiasmo delirante, justificam a sua franca expressão.
Ao gritá-la rompemos o véu do pudor do silêncio ou da hipocrisia. Manifestamo-nos tal qual somos. As más palavras fervem no nosso interior, como fervem os nossos sentimentos. Quando saem é de forma brusca, brutal, em forma de alarido, de ofensa. São projécteis ou facas, expressões fortes na blasfémia, especializamo-nos na crueldade e sadismo. É simples insultar Deus porque acreditamos nele. Palavras malditas que só pronunciamos em voz alta quando não somos donos de nós mesmos. Confusamente reflectem a nossa intimidade: as explosões da nossa vitalidade iluminam-nas e as depressões do nosso animo obscurecem-nas. Linguagem sagrada.
é aqui que entra a minha analogia um pouco fora do lugar, com certa humildade creio que as asneiras ditas, são como as frases "amo-te".
É uma parceria tal que ultimamente a frase "amo-te" vem envolta no impacto inicial de qualquer relação e se desenvolve a seguir ao primeiro beijo... ou ao primeiro encosto.
Não sou contra o declarar-se o amor, estou contra o desprestígio da palavra e mais que nada o desprestígio do sentimento. Consciente estou de que coisas assim, são meramente subjectivas, cada quem sente á sua maneira, há quem o sinta de uma maneira bem forte, não creio é que se ame relação atrás de relação, amando a todos. Não é um cheque ao portador. Nem todas as pessoas chegam a tocar o coração.
Parece-me algo ilógico que a palavra se forme do nada como se fosse um nome pomposo, como uma lotaria.
As asneiras e a frase "amo-te":
Ambas se desgastam, porque se utilizam quotidianamente como qualquer outra coisa.
Ambas são coisas que não se dizem a qualquer um... só ás pessoas que o merecem realmente.
Se, se dizem no momento adequado, na circunstância precisa ao receptor indicado, pode acelerar o pulso, que o estômago salte e a garganta ameaçando sair pela boca.
Ambas podem chegar a tocar o mais profundo do teu ser.
Ambas são estilhaços de emoções fortes. Grita-las com significado faz-nos sentir mais vivos.
Alguma outra??
Quem sabe este mundo necessite de novas más palavras as ditas "asneiras", ou quem sabe só necessite uma correcta educação de linguagem e sobre tudo ENTENDER o verdadeiro significado das palavras que transmitem emoções fortes.
Foda-se,
Adoro-te.
Qualquer coisa do género.
18 de janeiro de 2009
Fora de Tempo
15 de janeiro de 2009
Ode Triunfal
Ode Triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical — Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força — Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro. Porque o presente é todo o passado e todo o futuro E há Platão e Virgíllo dentro das máquinas e das luzes eléctricas Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinqüenta, Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes, Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma. Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento A todos os perfumes de óleos e calores e carvões Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável! Fraternidade com todas as dinâmicas! Promíscua fúria de ser parte-agente Do rodar férreo e cosmopolita Dos comboios estrênuos. Da faina transportadora-de-cargas dos navios. Do giro lúbrico e lento dos guindastes, Do tumulto disciplinado das fábricas, E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão! Horas européias, produtoras, entaladas Entre maquinismos e afazeres úteis! Grandes cidades paradas nos cafés, Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas Onde se cristalizam e se precipitam Os rumores e os gestos do Útil E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo! Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares! Novos entusiasmos de estatura do Momento! Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostados às docas, Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos! Atividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific! Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis, Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots, E Piccadillies e Avenues de l'Opéra que entram Pela minh'alma dentro! Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule! Tudo o que passa, tudo o que pára às montras! Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos; Membros evidentes de clubes aristocráticos; Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete De algibeira a algibeira! Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa! Presença demasiadamente acentuada das cocotes Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?) Das burguesinhas, mãe e filha geralmente Que andam na rua com um fim qualquer; A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos; E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra E afinal tem alma lá dentro! (Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!) A maravilhosa beleza das corrupções políticas, Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos, Agressões políticas nas ruas, E de vez em quando o cometa dum regicídio Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana! Notícias desmentidas dos jornais, Artigos políticos insinceramente sinceros, Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes — Duas colunas deles passando para a segunda página! O cheiro fresco a tinta de tipografia! Os cartazes postos há pouco, molhados! Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca! Como eu vos amo a todos, a todos, a todos, Como eu vos amo de todas as maneiras, Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!) E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar! Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós! Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura! Química agrícola, e o comércio quase uma ciência! Ó mostruários dos caixeiros-viajantes, Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria, Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios! Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos! Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar! Olá grandes armazéns com várias seções! Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem! Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem! Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos! Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos! Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos! Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. Amo-vos carnivoramente, Pervertidamente e enroscando a minha vista Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, Ó coisas todas modernas, Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima Do sistema imediato do Universo! Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks, ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes — Na minha mente turbulenta e encandescida Possuo-vos como a uma mulher bela, Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama, Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima. Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas! Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios! Eh-lá-hô recomposições ministeriais! Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos, Orçamentos falsificados! (Um orçamento é tão natural como uma árvore E um parlamento tão belo como uma borboleta.) Eh-lá o interesse por tudo na vida, Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras Até à noite ponte misteriosa entre os astros E o mar antigo e solene, lavando as costas E sendo misericordiosamente o mesmo Que era quando Platão era realmente Platão Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro, E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele. Eu podia morrer triturado por um motor Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída. Atirem-me para dentro das fornalhas! Metam-me debaixo dos comboios! Espanquem-me a bordo de navios! Masoquismo através de maquinismos! Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho! Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby, Morder entre dentes o teu cap de duas cores! (Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta! Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!) Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais! Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas, E ser levado da rua cheio de sangue Sem ninguém saber quem eu sou! Ó tramways, funiculares, metropolitanos, Roçai-vos por mim até o espasmo! Hilla! hilla! hilla-hô! Dai-me gargalhadas em plena cara, Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas, Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas, Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria! Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto! Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro, As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam, Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto E os gestos que faz quando ninguém pode ver! Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva, Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos Em crispações absurdas em pleno meio das turbas Nas ruas cheias de encontrões! Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma, Que emprega palavrões como palavras usuais, Cujos filhos roubam às portas das mercearias E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! — Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escadas. A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão. Maravilhosa gente humana que vive como os cães, Que está abaixo de todos os sistemas morais, Para quem nenhuma religião foi feita, Nenhuma arte criada, Nenhuma política destinada para eles! Como eu vos amo a todos, porque sois assim, Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus, Inatingíveis por todos os progressos, Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida! (Na nora do quintal da minha casa O burro anda à roda, anda à roda, E o mistério do mundo é do tamanho disto. Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. A luz do sol abafa o silêncio das esferas E havemos todos de morrer, ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, Pinheirais onde a minha infância era outra coisa Do que eu sou hoje... ) Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! Outra vez a obsessão movimentada dos ônibus. E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios De todas as partes do mundo, De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios, Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas. Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores! Eh-lá grandes desastres de comboios! Eh-lá desabamentos de galerias de minas! Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos! Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá, Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões, Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim, A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa, E outro Sol no novo Horizonte! Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo, Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje? Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento, O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro, O Momento estridentemente ruidoso e mecânico, O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais. Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar, Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos, Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar, Engenhos, brocas, máquinas rotativas! Eia! eia! eia! Eia electricidade, nervos doentes da Matéria! Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente! Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! Eia todo o passado dentro do presente! Eia todo o futuro já dentro de nós! eia! Eia! eia! eia! Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô! Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. Engatam-me em todos os comboios. Içam-me em todos os cais. Giro dentro das hélices de todos os navios. Eia! eia-hô! eia! Eia! sou o calor mecânico e a electricidade! Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa! Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia! Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! Hé-la! He-hô! Ho-o-o-o-o! Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z! Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
Álvaro de Campos
12 de janeiro de 2009
Outros seres sem medo com força e murros de baba como mastros ou farpas.
As
palavras andam sujas e gastas como lascas e são tão pouco para colar simetrias e desvincular os tigres de papel que não chegam a ser nem fogo nem maravilha.
Até os anjos imitam falsas cartilagens.
e não resistem.
Fixam envolvências. umas genéticas. outras laços ópticos que germinam serpentes ocultas. que de asas é o falso rigor. em branco. divino . em divina mortalha.
Ni Dieu ni maître.mp3 - Léo Ferré
La cigarette sans cravate
Qu'on fume à l'aube démocrate
Et le remords des cous-de-jatte
Avec la peur qui tend la patte
Le ministère de ce prêtre
Et la pitié à la fenêtre
Et le client qui n'a peut-être
Ni Dieu ni maître
Le fardeau blême qu'on emballe
Comme un paquet vers les étoiles
Qui tombent froides sur la dalle
Et cette rose sans pétales
Cet avocat à la serviette
Cette aube qui met la voilette
Pour des larmes qui n'ont peut-être
Ni Dieu ni maître
Ces bois que l'on dit de justice
Et qui poussent dans les supplices
Et pour meubler le sacrifice
Avec le sapin de service
Cette procédure qui guette
Ceux que la société rejette
Sous prétexte qu'ils n'ont peut-être
Ni Dieu ni maître
Cette parole d'Evangile
Qui fait plier les imbéciles
Et qui met dans l'horreur civile
De la noblesse et puis du style
Ce cri qui n'a pas la rosette
Cette parole de prophète
Je la revendique et vous souhaite
Ni Dieu ni maître