31 de outubro de 2009

O tempo não volta #5



Menina em teu peito sinto o Tejo

e vontades marinheiras de aproar

menina em teus lábios sinto fontes

de água doce que corre sem parar

menina em teus olhos vejo espelhos

e em teus cabelos nuvens de encantar

e em teu corpo inteiro sinto o feno

rijo e tenro que nem sei explicar

se houver alguém que não goste

não gaste - deixe ficar

que eu só por mim quero-te tanto

que não vai haver menina p'ra sobrar

aprendi nos "Esteiros" com Soeiro

aprendi na "Fanga" com Redol

tenho no rio grande o mundo inteiro

e sinto o mundo inteiro no teu colo

aprendi a amar a madrugada

que desponta em mim quando sorris

és um rio cheio de água levada

e dás rumo à fragata que escolhi

se houver alguém que não goste

não gaste - deixe ficar...

que eu só por mim quero-te tanto

que não vai haver menina p'ra sobrar

Cada Instante

Cada instante

Cada instante a ausência do tempo é uma viagem do silêncio

que em curva ou em recta a viagem se faça de névoas.

Talvez que os ínfimos sinais possam ser a prova prática de uma nova ascese.

Talvez a vida seja apenas um cardo, de seda.

Que mate a sede, e que em sede de claridades só resista um punho, a favor do

entendimento.

A ausência do tempo é uma viagem do silêncio.

Talvez a vida seja apenas um cardo, de seda.

Encontros

A nossa existência é repleta de encontros.

Ao longo da vida,

Deparamos com alguns que nos marcam,

E outros,

Que passando-nos ao lado,

Nunca nos apercebemos sequer que existiram.

Há encontros que nos deixam indiferentes,

Há encontros que nos deixam apenas a sorrir,

Há encontros que nos deixam a pensar,

Há encontros que nos marcam profundamente,

Há encontros que nos mudam a vida.

Nos encontros da vida,

Trocam-se múltiplas experiências.

Experiências de múltiplas origens,

Experiências de múltiplas formas,

Experiências…

Essas experiências,

Tornam-se por vezes,

Pilares da nossa forma de estar,

Referências para o nosso pensamento,

Base para acções futuras.

E assim,

Vamos apercebendo,

Que não devemos desperdiçar,

As possibilidades que nos surgem,

De nos encontrarmos,

De trocarmos experiências,

Porque isso,

A prazo,

Pode tornar-se,

Quase tão importante,

Como respirar.

Actualmente congratulo-me

pelo encontro que jamais pensei ter

E já lá vão muitos dias, traduzidos em anos….

Fica a experiência das vivências, da cultura, dos gostos,

do partilhar, a amizade

E que até hoje, vai durando!

Na forma simples de um “bom-dia”

Como é bom…


Saúdem-se

Encontrem-se



26 de outubro de 2009

We Can Do Anything



We can do anything at all
Just as long as we stand tall
We can go anywhere from here
Just as long as you’re near
Whenever I’m around you
It all seems so clear
If I wasn’t such a fool
I’d kiss your lips, my dear
We could be the future and the past
…Just as long as we can make it last
We could just let go, very slowly
Cause right now you’re filling my head
With so many silly questions
About human chemistry
They’re making me uneasy
And soft in my knees
When your heart is trying to tell you something
Not that far from the truth…just do it
And if you try to make the right decisions
based on what you’re made of…remember
We can do anything at all
Just as long as we stand tall

Mikkel Solnado

O tempo não volta #4

Olhares Vistos do Outro Lado

Fecha os olhos e recorda a voz, as palavras, ... também os silêncios; esses silêncios eloquentes que contemplam o todo o que as palavras não são capazes de transmitir.
Recordar cada instante, as conversas, ... os olhares; esses olhares de quem se não conhece, mas se torna cúmplice num acto sem se ter demasiada explicação do afecto...
A recordação retrocede no tempo, onde existia a conversa, onde não havia olhos, nem gestos, nem rostos nem mãos... onde o conhecimento mútuo era através de frases curtas, demasiado concisas para adivinhar apenas pedaços de alma ou através de escritas paridas no momento... e apesar da dificuldade, naqueles momentos aprende-se...
Abre-se os olhos e vê-se o rosto, mãos, olhar, gestos e parece tudo diferente de quando intervinha no ecran, absolutamente esquisito de quando tinha ao lado a fala, a voz precisa, falando e cantando com riso a pequena coisa, banalidade de circunstância.
Em casa lentamente recupera-se a rotina, mas a fragrância das belas rosas brancas que partilharam dias e dias, continuam à volta apesar da teórica distância, a essência de cada uma delas perdura na alma, reconfortando e fazendo com que o mundo, seja mais cálido, grato e mais confortável.
Assim vão os dias....

12 de outubro de 2009

Mafalda Veiga - Gente Perdida



Eu fui devagarinho
Com medo de falhar
Não fosse esse o caminho certo
Para te encontrar
Fui descobrindo devagar
Cada sorriso teu
Fui aprendendo a procurar
Por entre sonhos meus

Eu fui assim chegando
Sem entender porquê
Já foram tantas vezes tantas
Assim como esta vez
Mas é mais fundo o teu olhar
Mais do que eu sei dizer
É um abrigo pra voltar
Ou um mar para me perder

Lá fora o vento
Nem sempre sabe a liberdade
A gente finge
Mas sabe o que não é verdade
Foge ao vazio
Enquanto brinda, dança e salta
Eu trago-te comigo
E sinto tanto, tanto a tua falta

Eu fui entrando pouco a pouco
Abri a porta e vi
Que havia lume aceso
E um lugar pra mim
Quase me assusta descobrir
Que foi este sabor
Que a vida inteira procurei
Entre a paixão e a dor

Lá fora o vento
Nem sempre sabe a liberdade
Gente perdida
Balança entre o sonho e a verdade
Foge ao vazio
Enquanto brinda, dança e salta
Eu trago-te comigo
E sinto tanto, tanto a tua falta

Lá fora o vento
Nem sempre sabe a liberdade
Gente perdida
Balança entre o sonho e a verdade
Foge ao vazio
Enquanto brinda, dança e salta
Eu trago-te comigo
E guardo este abraço só para ti

10 de outubro de 2009

La Coupole

Voltei ao passado de Montparnasse.
O recordar das gentes de Montparnasse, o quanto eram elegantes, distintas e corteses.
Hoje Montparnasse é elegante, distinguida, apressada e faminta; por isso está sempre a transbordar. Come-se bebe-se e está-se em Paris.
Os camareiros sabem que o mundo esta ali, e administram-no sabiamente.
Ordenam-o, dirigem-no e são felizes.
Talvez me sente na cadeira de Hemingway, gostaria de comer ostras com ele. Quem sabe se me encontro com o fantasma de Carlos Gardel, ou a sombra de Josephine Baker.
Mas adoraria se estivesse entre nós jantar com Jean Paul Sartre e a sua diva ainda presente
Simone de Beauvoir. Trocarmos uns "trocos" de palavras entre nabos e nabiça de palavras ditas,
filosofadas entretidas na discussão no acompanhar de um jantar tranquilo, num vinho degustado por palavras.
Rir e gozar da minha companhia, nestas viagens relâmpago,
e não pensar na conta
nem nos fantasmas.

9 de outubro de 2009


Quando é que passará esta noite interna, o universo,

E eu, a minha alma, terei o meu dia?

Quando é que despertarei de estar acordado?

Não sei. O sol brilha alto,

Impossível de fitar.

As estrelas pestanejam frio,

Impossíveis de contar.

O coração pulsa alheio,

Impossível de escutar.

Quando é que passará este drama sem teatro,

Ou este teatro sem drama,

E recolherei a casa?

Onde? Como? Quando?

Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?

É esse! É esse!

Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;

E então será dia.

Sorri, dormindo, minha alma!

Sorri, minha alma, será dia!


Álvaro de Campos, 7-11-1933

5 de outubro de 2009

O tempo não volta #3

Na profunda esfera da noite,

Quando a ira se desvanece em chuva

E as palavras são território do esquecimento

Aparece o lugar sem nome

Donde se abre certa esperança.

As horas silenciosas e ilimitadas

Atravessam praias negras e vazias

Donde não deixa folhas a espuma do mar.

Sai da sua prisão, por fim, o canto

Para encher ecos da memória.

Na calma espera do amanhecer

Ouvem-se voos de gaivotas e sinos

E cantos puros de distantes vozes

Evocam a luz do novo dia.