16 de fevereiro de 2010

Tempo de Sonhar


A vida tem a sua cadência e muda
a forma como a vemos no tempo.
A maturidade, a plenitude, o brilho
de anos melhores, mais fecundos,
em que acreditamos que tudo podemos
inexoravelmente termina
ao aproximar-se e ver como nos
chega o inverno dourado da vida.
Tempo em que vemos a recordação
de anos brilhantes e felizes
pode mais que um presente algo sombrio
que por vezes nos apaga e entristece,
mas à que resistir e ver que nos resta uma vida, não se render,
ao passar dos anos e esforçar por renovar os sonhos de cada dia
e ver que um novo amanhecer aguarda
a quem não considera que a vida deu os seus frutos
e se esforça por ver a luz do sol de um novo dia
como desafio do cansaço
com ilusões frescas, renovadas
um outro dia, e outro dia
e um
qualquer
Dia!

Para Ti

Para ti, amigo que lês ou escutas as minhas palavras trazidas pelo vento, neste dia de inverno,
desejos de uma ilusão renovada, de muita amizade e carinho, numa manifestação multicolor de empenho,
com o contributo de todos.
Esperança sempre, sempre de uma nova etapa de vida, onde sonhos venham cobrir essa mesma vida,
de alegria, satisfação, beleza, com noites de descanso tranquilo, dias de luz, sorrisos, amor, sabedoria,
liberdade e projectos que deêm sentido à vida, pela tua coragem e valentia, pelo exemplo que nos dás.
Aos pais, pelo esforço de nunca desistir, nessa luta incansável de esperança, sem medos e com toda a força do mundo, porque o "mundo" vos apoia.

Para ti Afonso, um beijo muito especial.

Aos pais um abraço forte e de muita energia.

14 de fevereiro de 2010

Vida




" A vida pode não estar embrulhada com um laço, mas mesmo assim é um presente".

13 de fevereiro de 2010

Bebido o Luar



Bebido o luar, ébrios de horizontes,

Julgamos que viver era abraçar

O rumor dos pinhais, o azul dos montes

E todos os jardins verdes do mar.



Mas solitários somos e passamos,

Não são nossos os frutos nem as flores,

O céu e o mar apagam-se exteriores

E tornam-se os fantasmas que sonhamos.



Por que jardins que nós não colheremos,

Límpidos nas auroras a nascer,

Por que o céu e o mar se não seremos

Nunca os deuses capazes de os viver.



Sophia de Mello Breyner Andresen

4 de fevereiro de 2010

Porque Escrevo

Escrevo para me abraçar.

Escrevo para me abrigar.

Escrevo para me acrescentar.

Escrevo para me admitir.

Escrevo para me compreender.

Escrevo para me consolar do teatro que não fiz e do jazz que não toco.

Escrevo para me descobrir.

Escrevo para me encontrar.

Escrevo para me esquecer em noites de insónia.

Escrevo para me exceder.

Escrevo para não me sentir exilada numa ilha de silêncio e indiferença.

Escrevo para me percorrer.

Escrevo para não me sentir perdida em emboscadas de solidão.

Escrevo para me provocar.

Escrevo para me ressarcir.

Escrevo para me sentir viva.

Escrevo para me soltar, de um secular sossego.

Escrevo para não me sentir só.

Escrevo para abandonar uma história real sem enredo.

Escrevo para cortar esta amargura.

Escrevo para dançar com as palavras o tango mais erótico.

Escrevo para deixar na folha a impressão digital.

Escrevo para descrever sombras, fragilidades, desejos e sonhos.

Escrevo para despedaçar a rotina.

Escrevo para esquecer sonos vazios, despovoados.

Escrevo para exteriorizar a saudade, velha, cheia de musgo.

Escrevo para fugir ao lirismo bem comportado.

Escrevo para murmurar pérfidos segredos.

Escrevo porque gosto de escutar.

Escrevo porque não sei tocar a harpa que envelhece.

Escrevo para não sofrer.

Escrevo para não ter que me mascarar.

Escrevo para poder fazer coisas que não devo.

Escrevo para roer os ossos do medo.

Escrevo para preencher o vazio.

Escrevo para quebrar esta angústia.

Escrevo para registar o que é efémero.

Escrevo para resistir, ainda que com as pálpebras pesadas.

Escrevo para respirar.

Escrevo para secar a dor.

Escrevo para ser melhor do que sou.

Escrevo para tornar visível o mistério das coisas.

Escrevo para viver outras vidas.

Escrevo para voar, carregada de desejos.

Escrevo o que não se pode contar.

Escrevo como quem desaparece na praia, às tantas da madrugada.

Escrevo como quem desfalece ao toque das palavras.

Escrevo como quem morre aos poucos de ternura.

Escrevo como um pulmão que respira.

Escrevo como quem chora, tal como o poeta.

Escrevo porque é um acto de liberdade.

Escrevo por escrever e porque sim.

Escrevo-me…

Escrevo para me amar.

 A mim e a outros.

 De certa maneira.

1 de fevereiro de 2010

Deixa-te Ficar na Minha Casa



Filarmónica Gil

Peregrinação no Tempo sem Tempo

 O tempo e esta fuga desenfreada que faz com que as coisas ainda presentes, tenham anos anquilando os dias. Como podem ter passado, sobre alguns acontecimentos, tantos anos? O que leva a que os dias se sucedam numa acelerada progressão geométrica que perturba as 24h de que cada um é composto?
Ele havia o tempo das tardes arrastadas de inverno que passavam lentas entre bebidas quentes, as braseiras e o tempo dos lanches, essa pausa engolida hoje pelas horas encolhidas.
Ele havia o tempo das férias, das tardes quentes da cidade em que os livros devorados, nos traziam o sabor de uma viagem ou, ainda os filmes tão ansiosamente esperados transportando-nos para outras realidades, outras vivências, outros sonhos. Havia ainda as longas tardes quentes passadas no campo, junto à nora, depois das sestas, perto do jardim forrado a laranjeiras.
Havia ainda o mês de Agosto e Setembro, 61 longos dias, de mar, de conversas, de afectos, de amizades de praia, de longas noites, de longas pausas onde se descobriam pessoas, assuntos, olhares e sempre uma boa conversa.
Hoje a corrida é uma soma em constantes multiplicações. Um conjunto de instantes que "n" incógnitas perseguem e que, a todas queremos acorrer, como se tivessemos perdido a sabedoria das escolhas, das hierarquias, até das loucuras quando, a escolha, voluntáriamente era a errada.
O que nos aconteceu? Perdemos o tino? Não seremos capazes de enfrentar as modas, os tiques, os contágios?

Tempo para o tempo é, ainda, para mim, uma grande máxima de vida mesmo que conscientemente, saiba que no percurso vou perder muitas descobertas, contraponho, vou saborear como uma iguaria ou um vinho raro, o prazer da escolha e os "apports" que ela me tiver oferecido.
No tempo, como nas aguarelas, less is more.