24 de abril de 2011

O momento

O momento,
do momento que se traz cá dentro
como um lume que não se apagou,
como o retrato repentino
da gente que nos ficou no peito,
gaiola em desajeito
de folha e arame improvisado,
como horizonte de mar que se acontece preso ao céu.

E sem preparo
invento, do instante
o tanto ou quanto só,
cheio do que a memória guardou
no rio de dentro,
na margem do forte tambor aluvião.

E de súbito, o momento
do momento que em forma de gente restou
antes ou depois,
do mínimo espaço
do tempo,
do vento vago que se arruma cá dentro,
resto de momento que em mim trago
como brasa dum lume que se apagou.

Dum gesto, um momento
um passo que trago do levante,
que fica,
dentro do tudo o que me basta, agora
e do instante,
agora, do pouco eu
que invento
ou improviso,
de todo meu passo
futuro e passado,
a gasta pedra onde
em sangue,
também sou letra, momento meu
onde me teimo ficar inscrita,
como mínimo espaço do tempo que me divide,
resgate urgente
do pouco,
pouco do mundo, de repente.

E quem diria que
aqui, ali, mais adiante
no peito, no rio breve, na palavra,
dentro do lume que não se apaga
cá dentro, afinal
também há gente?

11 de abril de 2011


"Na minha memória, tão congestionada e no meu coração tão cheio de marcas e poços vocês ocupam um dos lugares mais bonitos".