28 de janeiro de 2007

Nocturnas Noites!!

Abraçava-me á noite nítida,
À alta, à vasta noite estrangeira,
E aos seus ouvidos sucessivos murmurava:
"Não quero mais dormir, nunca mais, noite, esparsas
Nuvens de estrelas sobre as planícies detidas,
Sobre os sinuosos canais, balouçantes e frios,
Sobre os parques inermes, quando a bruma e as folhas ruivas
Sentem chegar o Outono e, reunidas, esperam
Sua lei, sua sorte, como as pobres figuras humanas".

E aos seus ouvidos sucessivos murmurava:
"Não quero mais dormir, nunca mais, quero sempre
Mais tempo para os meus olhos, - vida, areia, amor profundo...
Conchas de pensamentos sonhando-te desertamente.

E a noite dizia-me: "Vem comigo, pois, ao vento das dunas,
Vem ver que lembranças esvoaçam na fronte quieta do sono,
E as pálpebras lisas, e a pálida face, e o lábio parado
E as mãos dos vagos corpos adormecidos!!"
"Vem ver o silêncio que tece e destece ordens
De tudo o que desce à franja do horizonte!
Na espuma, na areia, no limite incerto dos mundos,
Plácidos, frágeis, entregues à sua data breve,
Irresponsáveis e meigos, boiando, boiando na sombra,
Suspiro da primavera na aresta súbita dos meses...

Meus olhos andavam mais longe do que nunca,
Voavam, nem fechados, nem abertos,
independentes de mim,
E liam, liam, liam o que jamais esteve escrito,
Na rasa solidão do tempo,
Então a noite levava-me e...
E...eu sonhava.

1 comentário:

Anónimo disse...

É ler sem respirar
e a cada palavra tropeçar
em sentimentos maiores.
Como semeadas em campos de flores
selvagens, coloridas e perfumadas
na corrida que me solta o coração
para nelas me rebolar
mas prefiro assim olha-las, guarda-las, lembra-las, sem tirar os pés do chão.
Vou voltar aquele lugar...
Gostei de te encontrar,
Tesoura