14 de abril de 2007

"RETRATO"

"Por favor falem-me dos momentos perfeitos".
Estou a falar das situações privilegiadas.
As que estavam representadas nas gravuras.
Eu é que lhes chamava privilegiadas;
Pensava que deviam ter uma importância muito especial
Para terem merecido que as tomassem para assunto de
Umas imagens tão raras.
Tinham-nas escolhido entre todas, percebes?, e havia
Entretanto, muitos episódios que tinham um valor plástico maior,
Outros que tinham mais interesse histórico, outros ainda um
Interesse sentimental.
Imaginei assim que esses acontecimentos eram de uma natureza particular.
Para mais as gravuras confirmavam a minha ideia: o desenho era
Tosco, os braços e as pernas não estavam nunca bem ligados ao tronco.
Mas havia neles uma notável grandeza. E não julgues que tivessem ficado
Esquecidos os pormenores engraçados ou anedóticos.
Mas todos esses pormenores tinham sido tratados com tanta grandeza
E tanta inépcia que estavam em harmonia perfeita com o resto da imagem:
Não me lembro ter encontrado quadros cuja unidade fosse tão rigorosa.
Pois bem, foi daqui que tudo saiu.
"As situações privilegiadas?"
Enfim... a ideia que eu fazia delas, eram situações que tinham uma qualidade
Muitíssimo rara e preciosa, que tinham estilo, se perferes.
Ser rei..., por exemplo, parecia-me uma situação privilegiada, uma espécie de grandeza.
Este conhecimento/retrato do passado; ontém? confunde-me...
Sinto na minha boca esse sorriso; estou pouco à vontade.
Preciso que existas e não mudes. Podia muito bem pensar em ti, como uma
Virtude abstracta, uma espécie de limite.
Podes agradecer-me, que cada vez me lembre mais do retrato.
Lá estão outra vez as expressões que quase me obrigam a suster e transpor
Vontades simples e triviaias e tomar como meu o retrato. Hoje não sinto vontade nenhuma.
Fora, talvez , a de ficar calada e olhar para ele, "o retrato", de realizar em silêncio
Toda a importância deste acontecimento, extraordinário da exposição.
A perfeição com que estava retratado, não houve dia que não pensasse.
Lembrava-me distintamente até do mais pequeno pormenor:
Levanta-te e vem apoiar as mãos nos meus ombros...
"Não fostes tu que tiveste a ideia?" Pois felicito-te.
Não era nada do arco-da-velha, mas sempre era preciso conhecer.
Passei pela Galeria, mas só este retrato me chamou...
Saio e ao chegar à cancela, volto-me;
O jardim sorriu para mim, encostei-me à grade e olhei para ele longamente
O sorriso das árvores queria dizer alguma coisa; era isso, o verdadeiro
Segredo da existência do retrato
Fui-me embora,
Voltei e pronto...
Pus-me a escrever....

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