16 de agosto de 2007

Quadro Surrealista dos Sentidos

Uma vez mais a locomotiva da vida, faz a sua paragem na estação que mais gostamos, cujos sentidos repentinamente se vêm inundados de cores vivas e radiantes que desconsertam a mente, obrigando-a a render-se pacificamente perante o exercício de sensações primaveris.
As portas da carruagem gelada do inverno abrem-se e com os musculos ainda entrupecidos pelas remeniscências de um Agosto insípido começamos a transitar pelo caminho até que nos brinde um passo para a liberdade na companhia de tardes cálidas e ocasos temperados por uma tranquilidade acolhedora.
Milhares de fragâncias doces brindam desde o outro lado do muro, convidando-nos a embriagar-nos com o emplangoso perfume de novas flores desejosas que alguém pose a sua atenção nelas.
Dos motivos naturais do lugar resultam verdadeiros óleos impossíveis de copiar inclusíve pela mão do melhor artista, e com o seu caleidescópico esplendor conseguem que a simbiose com o nosso sentido visual seja um transe total.
Uma brisa suave propicia leves carícias no nosso rosto e vai tirando os vestígios de maus tratos pela crueldade do frio, sussurrando-nos ao ouvido a formula para uma felicidade da alma que guarda ao passar da esquina, passando o molinillo metálico.
Perante tanto espectáculo de diversidade cromático-sensorial, torna-se dificil não sucumbir perante o abismo de prazeres incorpóreos, drogado por substâncias de ausente presença física, mas tão pontiagudas como os espinhos de uma rosa. Há que ter a preocupação de não se marear pela incesante dança de nuances e tonalidades; de não perder o equilibrio antes de alcançar o ponto assinalado e cair nas vias da ausência emocional.
O pequeno mecanismo de aspas metálicas recebe um banho de sol que o tinge de uma coloração ouro-fogo, ao mesmo tempo aguarda ansioso para manosear-nos a cintura um instante antes de atravessarmos o portal para a existência de libertinagem total: sem absurdos medos pessoais, sem inúteis dúvidas da mente, sem veementes vacilações do ser. De consenso absoluto com cada um, de harmonia com o que nos rodeia... de eterna primavera.
A poucos metros de chegar a melódica serenidade, interrompe-se por um estridente assobio que ecoa nos tímpanos como um chilrriar infernal. Trata-se do sinal que nos diz que é hora, para que a viagem prossiga, de subir novamente a carruagem para alcançarmos outra paragem longe no horizonte. É que nunca chegaremos a compreender que a existência da nossa rotina é circular, e que por mais vontade que tenhamos de sair dela sempre responderemos a esse assobio endiabrado que nos instiga a prosseguir com a repetitiva ordem imposta pela natureza.

1 comentário:

Anónimo disse...

Siempre es bueno retornar a ambientes cálidos y si escribir te proporciona un espacio propicio para transitar, aquí es donde debes estar para expresar todo lo que dices en el post. Uno no termina de entender muchas veces los vericuetos de la blogesfera pero su encanto tiene y es un espacio donde uno termina poniendo mucho de su alma.

un saludo
besos
Juan Sissé