25 de novembro de 2007

O tempo

O tempo pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo o tempo tem.
-Era comum em criança repetir esta espécie de lengalenga, já desesperada alguém dizia: "Parem já não posso ouvir mais!"Apesar de não pensar muito acerca do significado desta ladainha, passado algum tempo comecei a aperceber-me de que o tempo estava presente em tudo o que eu fazia. Por vezes, revoltava-me contra o tempo, zangava-me de cada vez que me diziam que iria aprender com o tempo, a acho que, a certa altura, chegeui mesmo a odiá-lo quando me garantiam que iria perceber como o tempo tudo cura.
"Como pode o tempo curar?", pensava eu.
"Como pode o tempo ter essa capacidade?" "Não é impossível!"Quando se é adoloescente o tempo parece coisa para velhos, porque 'o aqui e agora' são o mais importante, e o amanhã não existe. Mas o tempo tem significados diferentes ao longo da nossa história individual e a forma como nos relacionamos com ele numa determinada idade deixa de ser verdade quando crescemos mais um pouco. E o que se espera é que acabemos por aprender a manter um diálogo mais ou menos amistosa com o tempo.
Ao longo da minha vida fui aprendendo a utilizar o tempo a meu favor: deixei de lutar contra ele, deixei de me chatear ou odiar, e passei a utilizar o tempo como uma arma terapêutica, à qual fui chamando de tempo terapêutico, um nome de certa forma pomposo, mas que na prática faz todo o sentido. Acabei por perceber, não só na minha experiência pessoal mas também na profissional, que o tempo tem uma capacidade curativa, leva-nos a deixar para ´trás todas aquelas emoções fortes que nos pareciam muito difíceis de transpor em determinados momentos das nossas vidas. O tempo premite que uma determinada emoção se transforme noutra muito mais tranquilizadora.
é preciso deixar o tempo actuar em determinadas cirqunstâncias para que a dor, a magoa e a tristeza possam desaparecer, mas para que isso possa acontecer temo que trabalhar com o tempo e não podemos deixar que seja ele a fazer tudo sózinho.
O bom tempo só surge quando aceitamos que o mau já passou. E é preciso perceber que um dia cinzento ou um tsunami arrasador nuca se perpetuará por tempo indeterminado e, por mais negro que esse momento possa parecer, há sempre quaquer coisa que traz de novo o sol.
E por isso digo: não interessa conhecer o tempo, não interessa interpretá-lo, não interessa achar que o tempo caminha depressa de mais ou muito devagar, o que interessa é que o tempo consiga ser nosso aliado. Deixei de querer mal ao tempo, aceito-o com todo o seu explendor e finalmente precebo porque o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.
Amo a tranquilidade do silêncio do tempo.

2 comentários:

Anónimo disse...

yo vine porque vuelvo
y tus palabras cadenas llevan muchas cosas, que dicen y por supuesto tambien sienten.

beso!
Jota

BARCO ALADO disse...

E o tempo que ensina a cor dos cheiros, o sabor dos sons, o toque quente da gente que nos ama. E o tempo que nos trás os amigos. E o tempo que nos levam os amigos no serão das noites, nas manhãs da paciencia, nas tardes da coincidencia. E o tempo que justifica a verdade na sociedade, justifica a paz, justifica o caminho, justifica o marcha-a-traz. O tempo que ao relento apaga as memorias dos fantasmas. E o tempo, que só o tempo que nos enruga a pele, que nos limpa as manchas e nos trás outras definitivas. E o tempo que o livro deixou cru, e a noiva perdeu o nome, e o povo perdeu a força, e o jardim perdeu a forma. E o tempo respondeu ao tempo...