12 de maio de 2009

Crónica 1

O Corpo Transparente

Quando andas na rua, olhas livremente para o que te apetece?
- Agora, olho. - respondi - Aos vinte anos não tinha coragem de olhar. Abençoado envelhecimento, afinal.
No norte encontro sempre a cintilação das ideias ou dos sonhos pendurados num velho cabide de juventude; numa zona simultaneamente brutal e sensual, solene e inesperada. Cruzam-se ali todas as espécies de habitantes até mesmo e quase sempre os artistas e de dia é fácil encontrar estes tipos de humanos em estado bacteriologicamente puro - e é fascinante ver a coabitação natural entre estes personagens, sinal de um tempo liberto da própria reivindicação da liberdade.
Gostava de poder falar, Virginia Woolf descreveu com lucidez a turvação que afecta o olhar das mulheres, a barreira de raiva que elas têm de ultrapassar para descobrirem quem são, para lá da repressão que lhes é imposta. "A felicidade é o livre uso das nossas capacidades".
Hoje arquivamos certos episódios como parte do folclore triste da vida. E, no entanto, continuamos a deixar rotular certas atitudes.
Sob o discurso oficial da liberdade, sucede-se um corpo transparente, despido do poder da reprodução, no espelho, um espelho que nunca lhe devolve essa imagem segura de um corpo descarnado, sem o olhar das formas e do sexo. Ultrapassam o controle dos outros.
Os estereótipos sociais não se alteram por decreto. Em vez de caminharem, vida fora, presas pelo olhar ditatorial dos outros. As mulheres têm o poder da criação - e, no fundo, no fundo, é isso que não se lhe perdoa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Y es que....la magia existe..la fuerza que suma... susurrarán palabras y... jugarán al escondite...

un abrazo profundo... profundo que roce la flor blanca del costado.

Jez