20 de novembro de 2009

Bus 76

O bus 76 transporta-me ao Museu do Louvre,
Cruza metade de Paris.
Sento-me na parte traseira e observo,
as cores e as paisagens urbanas.
Gosto da cor verde mármore e dos assentos,
o verde suave dos painéis e das paredes e o cromado nas barras.
Da beleza dos anúncios franceses.
observo nas calçadas as caixas de frutas expostas
num multicor da natureza morta.
Portas e janelas vistas em mil filmes franceses,
casas tipicamente francesas, telhados franceses,
cafés parisienses com diminutas mesas
onde comem pessoas apressadas.
Tudo isto vejo desde o Bus 76
Um negro arrumado senta-se ao meu lado,
muito francês.
Não, não é como esses negros americanos, elegantes,
vestidos com fatos multicolores.
Depois duas mulheres árabes com a cabeça coberta
sorriem e falam animadamente. Não as entendo, claro está.
Outra encantadora mulher de meia idade, parece-me hindu.
Bela, elegante, com uns imensos olhos negros, lê um livro em francês.
Mais à frente na fachada de L'Hotel de Ville
sobem duas musas ruivas
de olhos azuis e sorriso branco
e um rapaz moreno que lhes fala, parece-me russo.
Ou polaco.
Ou checo.
A rua Rivoli é sempre linda
cada vez que passamos em frente ao Hotel Meurice
há um piscar de olhos cúmplice como porteiro engalanado.
E as meninas russas.
E o rapaz árabe.
E o elegante preto francês.
De boa nos livramos, livrai-vos, que eu não tanto...
Sou portuguesa e nasci a meados dos sessenta.
Louvre, fim do trajecto, o sol é calmo nesta manhã de Março.
Respiro este ar parisiense tão fundo como posso
e ao deixar o 76
digo fora de contexto:
amemos mesmo nas nossas maiores incertezas.
As adolescentes caminham felizes até ao Sena.

1 comentário:

Anónimo disse...

Belo cenário descreves.

Senti-me lá e lá senti o teu texto... há magia em Paris é verdade, e sem querer entramos em descobertas inimaginaveis...

TR