15 de setembro de 2007

Letra...Música....nas Canções

O tempo é uma coluna de diferentes micras que vai peneirando ensinamentos e informações; chegamos a dado momento e os diamantes que luzem no centro da nossa vida tornam-se visíveis como estrelas, eternos, tacteáveis, reflugindo, duros e inactos, entre os nossos dedos. Chamamos a isto maturidade ainda que seja só um rótulo, tão prático como enganador (nada engana tanto quanto o pragmatismo): há pessoas que, muitos anos que vivam, não aprendem nada, outras que parecem ter nascido sábias. Entre estes dois extremos o comum dos mortais vai aprendendo por tentativa e erro, com mais ou menos feridas; a certeza que tenho é que para descobrirmos o núcleo duro, brilhante, da nossa vida, precisamos de aprender a desligar as nossas baterias da tomada da "actualidade" organizada pelos outros. Durante anos a minha tendência para a dessincronização preocupava-me: pura e simplesmente, eu, que me interesso por quase tudo, não conseguia interessar-me por nada que interessasse a toda a gente ao mesmo tempo. Demorei um certo tempo a ler "A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera, porque ninguém me mandava ler. Quando finalmente o li quis partilhar todo o meu entusiasmo com os amigos, já não se lembravam dos pormenores, por simpatia e caridade tive uns "hum, hum". Isto tornou-me um pouco mais tolerante para com as modas - agora procuro averiguar do que se trata.
Mas a verdade é que, desde que comecei a reconhecer a minha pequena colecção de diamantes, o anacronismo deixou de me preocupar. Há décadas que procuro esclarecer e aprofundar ideias, leio livros, converso sobre temas. Mas a súbita enxurrada de reportagens, debates e ensaios sobre os temas causam-me uma vertigem de fuga: por favor deêm uma caipirinha e levem-me para o Brasil. Confesso que a pompa e circunstância ajudam ao meu fastio. Alguém dizia "olhem eu é mais canções". Do que gostava era mesmo de canções. Eu pensava que para se ser intelectual respeitado tinha de se ouvir Bach, Mozart e Bela Bartok, no mínimo. Convencida de que as canções passavam com a juventuda. Permaneço nas canções. É nelas que guardo, intactas, a alegria e a dor dos anos que se escoam.
A chamada grande música a clássica serve-me de fundo e alento ao trabalho - mas os instantes essenciais da vida é nas canções que os encontro; os alicerces da minha memória e do meu coração sãofeitos de música e letra.
Mergulho num estado de encantamento, não só pela qualidade das canções, da vozes, mas também pelas pequenas histórias acerca do delicado casamento entre música e letra - e da dificuldade particular de responder à música de outro com as palavras certas. Isto não é sequer pensável, os saberes espartilham-se em vez de se contagiarem. O dom de separar as águas de forma a que elas possam correr nos seus caudais únicos para o leito de uma imensidão comum.
Tudo isto são diamantes.
Com letra e música.

1 comentário:

Anónimo disse...

Partilhamos o mesmo gosto como 2 dedos e uma tesoura que corta a vida, divide os papei, mas na essencia, nasceram juntos, têm a mesma arvore como origem, a mesma formula quimica.
A tesoura é o destino...