12 de janeiro de 2008

Viagem de Ida...

Penso que sei qual é o momento do dia em que as árvores se encontram mais verdes. Penso poder estar a viver o segundo em que as folhas têm mais brilho, e a paisagem todo o seu esplendor. Penso ter encontrado o instante em que a vida, antes escondida, manifestamente não exposta, renasce... Penso ter descuberto o intervalo, em que o céu diáfano, se ufana em mostrar a sua cor. Penso, finalmente, ter encontrado o espaço perfeito.Revivem os instantes, os momentos e o tempo, quando a vista recobra os seus tesouros, usurpados na cegueira de um dia, impregnados de heresia e viciados de eternidade. É a viagem que recordo, dia a dia. É o paraíso que contemplo hoje, como sempre. Vêm-se milhares de pinhas, como doses imponentes á vista. Cores infinitas decoram uma aguarela verde, interminável.
E os pastos lisos, planos e perfeitos, com tons brancos que surgem de um verde mais claro, quando o sol os ilumina.
E as árvores nuas e vazias, que se erguem incólumes, como estátuas perpétuas, de madeira e tempo.
E os caminhos que se bifurcam, partidos em mil trajectos, divergentes uns dos outros apresentando alternativas diversas...Existem flores... ramos delas... como pendulos, suspensos nas árvores; algumas, formando uma coroa de estrelas; outras, desprendidas como por um azar; subtis, vaidosas... presumindo a sua cor. Hoje estou feliz. Esta viajem está a ser diferente. Primeiro, porque não me sentei do lado esquerdo, como sempre, fi-lo do outro lado. Esse que me obriga a observar um universo distinto, ao que não estou habituada. É como se visse tudo isso que vejo do lado esquerdo, em retrospectiva. É como que, sentada do lado direito, veja o lado de volta, de regresso. É como que tudo o que avança, o céu e a paisagem, á medida que estou voltando, estive retrocedendo. Para além disso, volto a ver coisas que sempre observo, que adoro quando não estou a viajar; que ao verlas, devolvem-me um sorriso de prazer, só por as evocar. Tão só estes instantes servem de musa a mais bela poesia. Tão só uma destas cores... ou uma de estas vidas manifestas; tão só um destes segundos... ou destos sentimentos, percebidos em conjunto, servem para inspirar e fazer artista, o mais elementar dos aprendises de poeta. Se o sol se esconde, a vida deixa de brilhar com tanto afinco. Se o sol não está presente, o verde perde o seu encanto, e o céu o seu brilho. Dei conta que existem dias mais cinzentos... Dias opacos, porque o sol não resplandece.Dias apáticos, porque a vida perde o seu brio. Dias desvaídos, porque as cores não insistem tanto. Mas hoje não é assim. hoje o mundo tem o seu encanto. Hoje, o universo inteiro vive...Hoje era outra viagem, mas só de ida...


...Viagem de ida.

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