19 de janeiro de 2009

Imoral

1 - Adj. Imundo, repugnante, asqueroso, obsceno, imoral.

Honestamente não sou uma pessoa que diga muitas asneiras e muito menos me assusto ao ouvi-las, alguns dizem que é porque sou quarentona, e os quarentões são mochos....a verdade não sei, mas não acredito que seja esse o motivo.
Se não digo asneiras é porque não gosto, mas pelo contrário "encanta-me" a linguagem mordaz, obscena, subtil, porque são poucas as palavras que realmente significam alguma coisa, que têm vida própria, que vivem no nosso interior, fervem e estalam apesar da ambiguidade da palavra em si e em cuja magia cai o mais brutal do nosso ser. Isto para mim são as más palavras.
São as más palavras única linguagem viva num mundo de vocábulos anémicos.
E por isso mesmo não considero mal gastar o brilho desta linguagem.
Ultimamente permite-se o uso de certas palavras na rádio e televisão, são coisas de todos os dias, é uma liberdade de expressão muito grande, a verdade é que existe um retrocesso da linguagem e da expressão, começam a gangrenar as palavras. Essa linguagem que tinha a magia de imutar a quem a escutava e dizia "oh...deve ser importante" agora já se perdeu isso!!! Já não imuta ninguém!
Que dizer para que a palavra volte?
Que dizer para não se afogar quando as palavras precisas para isso se desgastam todos os dias em pueris conversações que não requerem essa carga de emoção?
Que asneiras dizes quando te cai o telemóvel ao chão??? Mas sejamos honestos... ainda que isso nos faça sentir bem, mas bem idiotas.
As palavras agridem aspectos básicos: - a sexualidade, a inteligência e o aspecto físico.
O poder mágico da palavra intensifica-se pelo carácter proibitivo. Ninguém a diz em público, somente num excesso de cólera, uma emoção ou o entusiasmo delirante, justificam a sua franca expressão.
Ao gritá-la rompemos o véu do pudor do silêncio ou da hipocrisia. Manifestamo-nos tal qual somos. As más palavras fervem no nosso interior, como fervem os nossos sentimentos. Quando saem é de forma brusca, brutal, em forma de alarido, de ofensa. São projécteis ou facas, expressões fortes na blasfémia, especializamo-nos na crueldade e sadismo. É simples insultar Deus porque acreditamos nele. Palavras malditas que só pronunciamos em voz alta quando não somos donos de nós mesmos. Confusamente reflectem a nossa intimidade: as explosões da nossa vitalidade iluminam-nas e as depressões do nosso animo obscurecem-nas. Linguagem sagrada.
é aqui que entra a minha analogia um pouco fora do lugar, com certa humildade creio que as asneiras ditas, são como as frases "amo-te".
É uma parceria tal que ultimamente a frase "amo-te" vem envolta no impacto inicial de qualquer relação e se desenvolve a seguir ao primeiro beijo... ou ao primeiro encosto.
Não sou contra o declarar-se o amor, estou contra o desprestígio da palavra e mais que nada o desprestígio do sentimento. Consciente estou de que coisas assim, são meramente subjectivas, cada quem sente á sua maneira, há quem o sinta de uma maneira bem forte, não creio é que se ame relação atrás de relação, amando a todos. Não é um cheque ao portador. Nem todas as pessoas chegam a tocar o coração.
Parece-me algo ilógico que a palavra se forme do nada como se fosse um nome pomposo, como uma lotaria.
As asneiras e a frase "amo-te":
Ambas se desgastam, porque se utilizam quotidianamente como qualquer outra coisa.
Ambas são coisas que não se dizem a qualquer um... só ás pessoas que o merecem realmente.
Se, se dizem no momento adequado, na circunstância precisa ao receptor indicado, pode acelerar o pulso, que o estômago salte e a garganta ameaçando sair pela boca.
Ambas podem chegar a tocar o mais profundo do teu ser.
Ambas são estilhaços de emoções fortes. Grita-las com significado faz-nos sentir mais vivos.
Alguma outra??
Quem sabe este mundo necessite de novas más palavras as ditas "asneiras", ou quem sabe só necessite uma correcta educação de linguagem e sobre tudo ENTENDER o verdadeiro significado das palavras que transmitem emoções fortes.

Foda-se,
Adoro-te.
Qualquer coisa do género.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo em absoluto cara amiga e não é pelo facto de ser quarentão. Também me encanta linguagem mordaz, obscena e subtil.
Autores clássicos, como Gil Vicente, fizeram uso da linguagem vernácula, Bocage não hesitou em recorrer a termos brejeiros que ofendiam os sacrossantos bons costumes da época. Charles Darwin também se interessou pelo carácter excepcional dos impropérios, sugerindo que poderiam constituir o elo perdido entre os grunhidos dos símios e a linguagem humana. Eu faço o que posso.

JJ disse...

Soberbo, amiga I, soberbo mesmo!!! Um beijo para ti!
PS: Foda-se!, que texto brilhante!